segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

NELSON ALVES DE CARVALHO


Cresci no sertão agreste
ao lado de flores e espinhos,
sentindo o vento do leste,
dando abrigo aos passarinhos

Um dia tive cortado
meu tronco rente do solo 
em terra, triste, arretado,
perdi meu porte de Apolo,

Dali fui destacado
a golpes de serra e facão
assim me vi transformado
em forte e rijo pilão

Com carne seca e farinha
preparei muito paçoca
sem falar na quirelinha
para a ninhada da choça

O café em côco socado
lata cheia toda semana
de novo, depois de torrado,
voltava à tarefa insana

Limpei arroz do mais belo,
colhido de modo vário,
e fiz, com milho amarelo,
canjica pro "Seu" Vigário

Fui banco dos violeiros
nas belas festas juninas,
descansei os fazendeiros
sinhozinhos, garotos traquinas

Vi festas das suntuosas,
vi cenas de pranto e dor,
vi moças belas, chorosas,
desiludidas de amor.

Foram chegando os moinhos,
fui jogado para um canto,
do desprezo senti os espinhos
mas ninguém notou meu pranto.

Nem assim fui consumido,
já não sou feio pilão,
pois agora estou revestido
e sou móvel de salão...

Nelson Alves de Carvalho

( do livro Antologia : Letra Viva, "Sou Voz")

5 comentários:

  1. Pois vou te contar um segredo,
    mas me prometas levá-lo pra morte
    contigo: um dia pensei que fazer
    versos, escrever poesia, fosse
    dotes de qualquer um e até me
    chamei de poeta, mas como achei
    forte a palavra optei por trocá-la por
    outra que, bobinho que sou, achava
    mais fraca; palhaço.
    Eu, que de fraco não tenho nada e
    de forte eu nada tenho, achei por bem
    confundir os amigos, pois assim, no mínimo,
    respeitariam a escrita quando lessem
    meus versos ou se rasgariam em gargalhada
    com a palhaçada das poesias.
    Portanto, meu amigo Touché. Guardas
    contigo o que acabei de dizer e
    se não for pedir muito, batas palmas
    comigo pros poetas como "tu" e para
    os outros, tais quais Nelson Alves de
    Carvalho que fez de mim um santo ao
    obrigar-me confessar minhas próprias
    mentiras.
    Um grande abraço e obrigado pelo que
    vais levar ao túmulo contigo.

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    1. Caro mestre: até fazendo prosa,ou contando prosa,o amigo é um poeta. A humildade é uma prova de força. Abração

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi Touché, desculpe de retirado o comentário
    Já tô com denge, meio debilitada e fiquei atrapalhada.

    Realmente um belo e sensível poema..parabéns
    Beijos
    Lua Singular

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  4. Um poema realista que nos dá uma visão da vida no interior.
    Saudações poéticas,
    Juvenal Nunes

    Voar Nas Asas do Sonho

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