quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

JOSÉ MAURÍCIO VIEIRA


Se eu pudesse dizer
Do que é feito o céu,
Quando o cinzento da tarde
Traz a lembrança da ida breve,
Das nuvens brancas e do sol dourado,
Minhas palavras seriam, eu sei,
De uma profundidade e doçura,
Que enterneceriam até a solidão,
E ecoariam suaves, na chegada da noite,
Como a melodia divina, que vem,
Para deleitar o espírito, de quem,
Mergulhado em êxtase, ama em silêncio,
A sutileza de um raro momento.

José Maurício Vieira
( do livro Academia Guarulhense de Letras
Amostragem Literária - )

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

UM POEMA DE TOUCHÉ !











Anoto impressões em versos simples
serenas digitais de espanto..
Espantado, envelheço,
espantalho
Perco folhas e galhos
Frutas amadurecem
Frutas são colhidas
ou despencam ao pé da árvore
Sobrevivo aos cinzas do inverno
Sobrevivo às inclemências do sol
Necessito.

 
Touché

domingo, 4 de outubro de 2020

UM POEMA DE CÉSAR MAGALHÃES BORGES


Desejo o heroísmo de um dia comum,
A obra-prima do dever bem feito,
A nobreza de quem não é rei,
A virtude de quem tem defeitos. 

A maior paz vem
da convivência de opostos,
postos lado a lado
pelo respeito

 Os grandes santos
Não esperam a vida eterna
com a morte no altar.
Vivem em baixo do mesmo teto
que guarda serventes e arquitetos
e fazem o céu
da vida que do chão trouxeram.

 Estrelas que se põem do céu
não serão guias para nossa esquadra
porque não navegam

 Nômades os cometas
Nada trarão para nossas casas
Visto que não sabem morar

 O velho saberá o novo
pelo que sucede e antecede
e pelo tempo que viveu
Só a irmandade será mãe
De bons conselhos 

E nada
Que ignore o nosso ar
Poderá inspirar vida
Nada que não concatene
Arte e Vida
fará qualquer sentido.

( do livro Canto Bélico )

 

O poeta César Borges é também professor da Universidade de Guarulhos (UNG).O livro Canto Bélico está sendo relançado em  terceira edição. César costuma apresentar suas poesias em espetáculos musicais,com músicas nacionais e internacionais. Sei que ele gosta dos Beatles. Não sei se gosta dos Rolling Stones.


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

J.J. MACEDO



O século apodrece em nossas mãos.
Independente de nós
Indiferente a nós.
Um luz pálida
debruça sobre as sombras do crepúsculo 
e espera que o alvorecer
venha vestir de luz
a nudez escura da incerteza.



terça-feira, 4 de agosto de 2020

UM POEMA DE JOSÉ MANUEL VIVEIROS


Que a alvorada não veja
A mágoa
que o crepúsculo enseja 

José Manuel Viveiros, 
do livro "Inventário de Sentimentos".

quinta-feira, 9 de julho de 2020

UM POEMA DE RINI MARTIN


onde o oásis ?
sigo em frente
deserto só deserto
areia : as areias
o branco reveste meu corpo
a desértica invenção de um espaço
duplas buscas : a poesia e a sede
fogo que devora. aridez total. claros
signos e olhares atentos. o olhar : viagem
e vertigem, esperança ainda

a brancura do deserto
camelos
e rastros : buscas e fugas.

na celebração do desejo : no cântico
das palavras: a palavra saltita
no branco da página
palavras-desertos

oásis ? só águas

 

Rini Martin

do II Concurso Municipal de Conto e Poesia da Prefeitura Municipal de Guarulhos

quarta-feira, 3 de junho de 2020

UM POEMA DE RYNALDO PAPOY



Meu coração 
é como a bandeira de Israel 
no Líbano
 
Quem despreza
viverá o desprezo
 
E eu..cheguei ao limite
Agora, quero 
regurgitar sua imagem
 
Imagem de Universos em criação
Imagens de estrelas explodindo
Imagem de explosões nucleares
em Júpiter
Imagem da luz do sol
invadindo este banheiro.
 
Seus lábios não pertencerão
mais aos meus lábios
 
Dor.
 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

ZÉZINHO FRANÇA



Verso sobre o inverso
de diversos versos
Verso sobre o verso
que me dá na telha ;
Verso sobre o verso
que me dá um nó.
Faço tudo inverso
do que me dá na telha
Faço todo verso
que me deixa só
Invento versos avessos
Inverto veros versos
Faço falsos versos
fatos falsos
Versos em dó.

Zézinho França
(no  Informativo do Grupo Literário Letraviva.)

quarta-feira, 6 de maio de 2020

CASTELO HANSSEN

  

Eu queria fazer uma poesia
que fosse clara como a luz do dia
para ser consumida como o pão

Uma poesia assim
agridoce como a fruta do mato,
pura como a água do regato,
melodiosa como uma canção.

Uma poesia assim,
que trouxesse beleza em cada rima,
para ser cantada no trabalho,
para ser batucada na marmita,
para ser comentada nas esquinas.

Uma poesia assim.
comum e popular como a cachaça
que se bebe barato, que é de graça,
que é do rico, do pobre, do sem nome.
Uma poesia que todos entendessem
como todos entendem a palavra amor
ou a palavra fome...


(do livro Canção pro Sol Voltar )

Ilustração: Joaquin Sorolla Y Bastida
Maria pintando ao ar livre

quinta-feira, 23 de abril de 2020

J.J. MACEDO



Rio,
mas o meu riso é um rio 
que não corre mais
 
Rio,
meu riso estio
de margens áridas
e paisagens pálidas
 
Rio,
meu riso extinto,
seco : sertão.
 
J.J. Macedo
(do concurso municipal de poesia da Prefeitura de Guarulhos)
 
ilustração: Maquiagem de Palhaço por John Sloan (1909)  

quarta-feira, 8 de abril de 2020

VALDELI VILA NOVA


São muitos 
os estômagos - ocos
que roncam
Sinfonia inacabada
macabra desassistida
Tu, minha barriga
inimiga
de tantos sonhos
saqueada consumida
desnutrida vida
Diante de ti 
lavo minhas mãos
com o suor oprimido
e derramo minha poesia
sobre projetos e discussões
Olho outros homens mosqueados
que carregam cruzes e lâminas
pelas ruas das fábricas sem vagas
Juntai o resto dos homens
meus irmãos 
e morramos
morramos todos
é para que nunca
tenhamos que repetir coisas
e mastigar cacos
e derramar gargantas
e ferver papéis
e blasfemar
nunca mais
 
do livro " Licença Para a Vida "

quarta-feira, 25 de março de 2020

CASTELO HANSSEN



Quando deito nos braços da Poesia
eu me mudo para um mundo diferente,
onde os seres são todos namorados,
onde os dias são todos feriados,
e onde as tardes são quentes.

Quando eu acordo, sempre está chovendo,
sempre é segunda-feira, a barriga doendo,
e eu saio a trabalhar...
a Poesia vai comigo, lado a lado
me acompanha nos ônibus lotados,
e segue sussurrando aos meus ouvidos
palavras sem sentido.
E eu peço prá ela ir embora,
para não atrapalhar...

Um dia eu fico só e enlouqueço,
e peço a conta e saio por aí..
E gasto o meu dinheiro, muito pouco,
bebendo como um louco,
comendo doces e lendo gibi.

Eu e a Poesia, sempre nos amando,
no asfalto da avenida, nos jardins,
cavalgando nas nuvens, abraçados,
vamos fazer a vida sempre assim..

E eu peço prá Poesia, companheira,
ficar sempre comigo, a vida inteira,
e não me abandonar !

Desculpe, gente, 
eu sonhei novamente ;
é hora de acordar !!!

Castelo Hanssen 
Academia Guarulhense de Letras 
( do livro Canção Pro Sol Voltar )

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

PEDRO DIAS GONÇALVES


Eu sou um ponto perdido no universo das coisas.

Um ponto que mais parece um pedaço de espelho quebrado
e reflete as coisas que estão à sua volta !
 
Eu sou um ponto !
Um ponto inerte e amorfo que se dilui e vira um nada.
Um ponto que não tem o seu ponto de apoio.
Um ponto isolado sem uma linha reta 
para se ligar a outro ponto !
 
Eu sou um ponto ! 
Um ponto que vive só e quieto,
um ponto que viaja na linha do pensamento, 
em busca da razão e nos descaminhos submete-se
a todo tipo de agressão .
 
Eu sou um ponto sensível
que não queria ser espelho..
 
E na lousa negra da vida não ser reflexos de giz,
ter só um ponto branco,
unicamente,
um ponto X.
 
Pedro Dias Gonçalves
(do livro Momentos)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

NELSON ALVES DE CARVALHO


Cresci no sertão agreste
ao lado de flores e espinhos,
sentindo o vento do leste,
dando abrigo aos passarinhos

Um dia tive cortado
meu tronco rente do solo 
em terra, triste, arretado,
perdi meu porte de Apolo,

Dali fui destacado
a golpes de serra e facão
assim me vi transformado
em forte e rijo pilão

Com carne seca e farinha
preparei muito paçoca
sem falar na quirelinha
para a ninhada da choça

O café em côco socado
lata cheia toda semana
de novo, depois de torrado,
voltava à tarefa insana

Limpei arroz do mais belo,
colhido de modo vário,
e fiz, com milho amarelo,
canjica pro "Seu" Vigário

Fui banco dos violeiros
nas belas festas juninas,
descansei os fazendeiros
sinhozinhos, garotos traquinas

Vi festas das suntuosas,
vi cenas de pranto e dor,
vi moças belas, chorosas,
desiludidas de amor.

Foram chegando os moinhos,
fui jogado para um canto,
do desprezo senti os espinhos
mas ninguém notou meu pranto.

Nem assim fui consumido,
já não sou feio pilão,
pois agora estou revestido
e sou móvel de salão...

Nelson Alves de Carvalho

( do livro Antologia : Letra Viva, "Sou Voz")

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

PEDRO DIAS GONÇALVES


De repente, não sou mais eu
Perco-me tentando explicar os porquês
e esta
saudade faz com que eu
deixe de ser
eu
para ser você !!

( do livro "Moleque Atrevido" ) 


quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

JAMIL DIAS PEREIRA



Neste momento,
queima-me o fogo
das coisas que eu não fiz;
e das que tive que fazer

Jamil Dias Pereira
do fanzine Pholhetim
Guarulhos 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

ANGELO MACEDO



Já é tarde
Uma tarde tímida que se vai...
O sol, depois de cumprir sua tarefa
começa ir-se sem tomar conhecimento 
das coisas que deixa para trás..

E eu, aqui estou, acorrentado por mim mesmo !

Escurece mansamente...
Observando, consigo ver a dança das estrelas..
Sórdido momento a que me foi dado o desespero
de ver chegar a noite que traz o vento em seu seio

Consigo sentir o leve toque da brisa que entorna o orvalho
e o repousa nas folhagens dos lírios...
O silêncio é quebrado pelos "donos da noite"...
Os instantes oprimem ainda mais...

Concentro-me em uma estrela distante
e tento um diálogo sem resposta !
Obtenho apenas reflexos !
Adentro a madrugada através de momentos vazios !

Pela manhã, o orvalho escorre à terra
e o vento espalha a poeira..
A gota de orvalho desaparece !
Penso no meu destino !...

Angelo Macedo

( do livro Antologia Letra Viva - Sou Voz ) 
Guarulhos