Em Guarulhos, Dona Maria reúne poesias e publica primeiro livro aos 72 anos
A facilidade de transformar tudo o que sente e observa em poesia acompanha Maria Barros de Jesus, 74, desde que ela era uma menina no sertão de Pernambuco. Mas foi só depois de completar 72 anos, na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, que Dona Maria, como é conhecida, conseguiu publicar o seu primeiro livro.
A obra Minhas Composições traz 34 poemas que tratam de situações pessoais – em sua maioria, os dias tristes que passou em seu casamento. No entanto, reúne também textos sobre pequenos detalhes cotidianos, que são motivos de alegria para ela, como as abelhas que visitam suas flores no quintal no bairro de Bonsucesso, onde vive, na periferia do município.
Seus textos estavam em um caderninho cheio de rabiscos antes de serem publicados. Poemas sobre o seu primeiro ano de casada e até versos mais recentes, como um que homenageia um violeiro falecido há pouco tempo, foram descobertos pela sua neta de consideração, Aline, que a incentivou a transformá-los em livro.
“Muitas vezes, de noite eu perdia o sono e ficava sentada no sofá assistindo televisão e escrevendo. Era assim que acontecia”, conta.
Segundo a autora, sua poesia sempre surgiu de forma natural e transita pelo estilo do cordel. Qualquer situação sempre foi motivo de inspiração, até mesmo a rotina.
A pernambucana natural da Vila de Umãs, na cidade de Salgueiro, afirma que aprendeu a escrever por conta da sua curiosidade. “Eu consegui aprender a escrever, graças a Deus, porque eu fazia cópia de tudo que eu via no livro. Era vírgula, era pontuação, era interrogação”, relembra.
Nascida em 1943, ela deixou a cidade jovem acompanhada pelos pais e foi morar em Minas Gerais, onde, apesar das adversidades, se formou no magistério e trabalhou como professora. Mas só em 1973 mudou-se para Guarulhos.
Por conta da escrita, um dos seus sonhos de criança sempre foi ser professora, e antes de se preparar para isso já ensinava os irmãos e os primos na roça. Durante algum tempo, trabalhou em uma biblioteca escolar e aproveitava para ler Machado de Assis. “Era o meu preferido”, diz.
Reunindo os poemas de uma vida inteira, a escritora, animada com a ideia de concretizar o livro, teve a ajuda do selo Dialética, uma editora independente da cidade de Guarulhos. Em abril de 2015, a aposentada lançou o livro na Casa das Rosas, na Avenida Paulista e, no mesmo dia, vendeu todos os exemplares que havia levado ao evento.
No mesmo ano da publicação, a Companhia Bueiro Aberto, coletivo de cinema da cidade de Guarulhos, produziu um mini-documentáriosobre a vida e trajetória da escritora.
Com carinho, ela se recorda que ao pegar os livros impressos pela primeira vez sentiu uma emoção muito forte. “Eu abracei e disse: meus filhos”. Hoje ela ainda não sabe se publicará outra obra, mas garante que não deixou de rascunhar seus pensamentos.
Thalita Monte Santo é correspondente de Guarulhos
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